sexta-feira, 27 de outubro de 2017

397. Economia e Economistas


Possuo uns oito compêndios de Economia. Entre eles o de Paul Samuelson, professor do MIT, prêmio Nobel de Economia, divulgador da teoria keynesiana: o Estado pode e deve interferir no mecanismo econômico nacional, através de intervenções fiscais e monetárias, sempre que este apresentar ineficiência de funcionamento.

O compêndio de Paul Samuelson foi editado pela primeira vez em 1955. Aquele, que adquiri em 1979, é da 8ª edição brasileira desse mesmo ano. O livro que leio, na fotografia aposta neste blog, é exatamente o livro do imortal economista norte-americano. Senti necessidade de possuir noções de Economia para melhor desincumbir-me das tarefas que o Banco do Brasil me confiara.

Os compêndios, que adquiri mais recentemente, foram publicados já no início deste século, o de N. Gregory Namkiw, professor da Universidade de Harvard, e o de Paul Krugman, prêmio Nobel de Economia, professor da Universidade de Princeton.

Esses três livros nada mais pretendem que iluminar para o leitor o acervo de conhecimentos que a Humanidade detém sobre essa área de atividade humana que se abarca com a palavra, a ideia de Economia.

Fascina-me a coincidência que constato na primeira lição dos mestres, a definição de Economia. Paul Samuelson lista seis definições. Economia é o estudo da riqueza, definição inspirada no título do primeiro livro de Economia, Riqueza das Nações, de Adam Smith, o fundador da ciência econômica. Economia é o estudo de como melhorar a sociedade, definição que suscita sentimento de veneração, admiração e gratidão pela Economia e pelos economistas. Economia é o estudo dos homens em sua atividade comum, ganhando e desfrutando a vida, definição do grande Alfred Marshall, aquele que forneceu a linguagem matemática à Economia.

Em seguida, Paul Samuelson apresenta sua longa definição, fulcrada na de Alfred Marshall, contendo, ademais, os adendos de exatidão de uma mente científica excepcional: “Economia é o estudo de como os homens e a sociedade decidem, com ou sem a utilização do dinheiro, empregar recursos produtivos escassos, que poderiam ter aplicações alternativas, para produzir diversas mercadorias ao longo do tempo e distribuí-las para consumo, agora e no futuro, entre diversas pessoas e grupos de sociedade. Ela analisa os custos e benefícios da melhoria das configurações de alocação de recursos.” Mais adiante, na explicação do que é Economia, Paul Samuelson esclarece: “A Economia Política mostra às pessoas de que modo, se realmente o quiserem, poderão trocar a quantidade de bens pela qualidade da vida.”

Os dois outros supracitados autores adotam a famosa definição de Economia, dada por Alfred Marshall: “Economia é um estudo da humanidade nos negócios comuns da vida.” A vida do homem livre é extensa teia de opções, toma-lá-dá-cá.

Eis, indiscutivelmente, o que os mestres nos estão dizendo: estamos apenas tentando entender como funciona esse mercado que existe nas sociedades que se dizem livres, os mercados em que, em geral, você é livre para escolher o que fazer, possuir coisas, adquirir coisas e trocar coisas.

A primeira lição da Economia para mim é esta: o Economista não cria, não inventa a Economia; ele é um cientista, ele estuda, analisa o que existe.

Há várias sociedades nos tempos atuais, mais ou menos livres. Há a Coreia do Norte, que não sei se é uma sociedade livre, parece-me que não é. Há Cuba, que pouco conheço, parece-me uma sociedade pobre, onde a individualidade é sufocada e vive em condições que me parecem insatisfatórias. Existe a ampla maioria de Estados Democráticos, onde os indivíduos são teoricamente submetidos unicamente à lei, formulada por delegados temporários da população, com restrita e distante interferência do poder público NOS NEGÓCIOS COMUNS DA VIDA de cada indivíduo.

É sobre a análise dessa amplíssima parte da humanidade, quase a totalidade da humanidade, que compreende inclusive a China e a Rússia, que o Economista se debruça para analisar como funciona esse curioso mecanismo econômico, a economia de mercado.

Atentem bem. Não o apelidam de Economia de livre mercado. Contrapõem-no à economia de comando. Aquela não possui um comando central que normatize TODA ATIVIDADE PRODUTIVA E DISTRIBUTIVA DE BENS (o que se produz, quanto se produz, quem produz, onde se produz, como se produz, etc, etc; onde se entrega, quem entrega, quanto entrega, quando entrega, etc, etc; quem recebe, onde recebe, quanto recebe, quando recebe, etc, etc).

Essa economia de comando já foi tentada ao longo da História. A Rússia, a Europa Oriental e a China tentaram-na recentemente e não a suportaram por longo tempo. Alegaram que ela não era capaz de abastecer a sociedade dos bens que fazem a vida suportável, agradável e feliz.

A História relata que a Humanidade já adotou várias formas de Economia e que a Economia varia na medida em que o próprio homem se transforma. Houve a Economia do homem primitivo caçador e coletor, a Economia do Pastoreio, a Economia das Primeiras Civilizações, a Economia Greco-romana, a Economia feudal, a Economia Capitalista Comercial da Idade Média, a Economia de Comando experimentada no século passado e a Economia Capitalista do mundo atual, industrializado e financeiro.

O economista estuda a Economia que aí está, a Economia de Mercado, e explica o seu funcionamento, esclarecendo o seu sucesso e apontando os seus defeitos. Fascína-o, sem dúvida, o fato fundamental de que a atividade genuinamente egoísta da busca do bem-estar individual redunde, no final, no bem-estar da sociedade. Percebe, todavia, que a lei básica da Economia de Mercado é a eficiência, isto é, que só quem é eficiente, quem é capaz de produzir um valor, um Bill Gates ou um Neimar, tem lugar na Economia de Mercado, produz valor e participa do valor. A Economia de Mercado tem um conceito muito restrito de equidade: só quem produz valor merece compartilhar do valor, e na medida do valor que produz.  Na Economia de Mercado não há lugar para os menos dotados que o destino vomitou por aí nas vielas da existência.
                                                                                                 
John Kenneth Galbraith, um dos grandes economistas do século passado, no seu genial livro da História da Economia, A Era da Incerteza, narra a escabrosa mentalidade existente no final do século XIX e início do século XX sobre a atividade econômica, nela entrevista a seleção natural eliminando as classes pobres através do mecanismo da Economia de Mercado. Narra a gloriosa estada de Herbert Spencer em 1882 nos Estados Unidos:  “Em toda parte foi ele acolhido e reverenciado por homens que viam, em sua própria seleção como ricos, a melhor prova de que a raça humana estava sendo melhorada."  Entre esses ricos Galbraith coloca nomes gloriosos da história econômica norte-americana: “...os homens que lesaram os seus clientes ou usuários de seus produtos ou serviços saíram-se muito melhor junto ao público, e suas respectivas famílias conseguiram alta distinção social. Isso se aplica a Vanderbilt. Foi o que aconteceu também em outros setores de atividade, onde encontramos os nomes de Rockefeller, Carnegie, Morgan, Guggenheim, Mellon, que fizeram fortuna produzindo a baixo custo, suprimindo a concorrência e vendendo caro. Todos eles fundaram dinastias da mais alta reputação. Todos se tornaram, com o passar do tempo, nomes extremamente respeitáveis...Esbulhar os investidores – outros capitalistas – foi algo que ficou atravessado na garganta do público. Mas, a rapinagem pública – o esbulho do povo em geral – embora criticada na época, com o tempo adquiriu um aspecto de alta respeitabilidade, de elevada  distinção social. Mesmo durante suas vidas, muitos dos mais notáveis praticantes dessa técnica granjearam a reputação de impolutos homens de bem, tementes a Deus.”

O economista, pois, explica o que existe e até aconselha medidas que melhorem o funcionamento da Economia e desaconselha providências que lhe são nocivas.

O economista sabe que o Homem é um ser em transformação. Sabe que o homem se faz. Ele sabe, pois, que a Economia é uma ciência em estado de permanente revisão, porque ela é o estudo da Humanidade nos negócios comuns da vida.


  

   
   
  
                                                                          

      

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